terça-feira, 4 de setembro de 2012

ATEÍSMO, MAIS UMA “RELIGIÃO”

"Irmãos, olhai e vê: a evolução é a verdade!!"






Óbvio que existem exceções ao texto abaixo, falo em linhas gerais. Além disso, eu me refiro aos ateus convictos, não às pessoas que duvidam de Deus por ainda estarem buscando a verdade. 


Depois de conviver com alguns ateus, ouvir seus argumentos, ler alguns de seus textos e ultimamente tenho até lido bastante os textos da ‘ATEA’ (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos*) tenho cada vez mais concretizado uma observação antiga de que o ateísmo é mais uma “religião”. Coloco este termo entre aspas porque ‘religião’ envolve crença em alguma divindade transcendental, sendo esta uma característica da qual os ateus destoam.


“Mas ateus não têm código doutrinário legalista!!” podem afirmar alguns... Isto é verdade, apesar de algumas coisas serem proibidas para ateus (como duvidar da evolução inter-espécies por exemplo) eles não têm uma doutrina legalista seguida por todos. Porém o papel que a doutrina legalista desempenha nas religiões é cumprido por outra característica.

O legalismo na religião tem a função de discriminar, ou seja, serve pra separar entre os adeptos e os não adeptos, entre os legais e os ilegais. Desta forma, o legalista se sente acima das pessoas que não seguem a mesma lei que ele, acha que por viver o estilo de vida que vive e acreditar no que acredita é um ser que atingiu a “iluminação” a despeito dos demais.
Para os ateus, não crer em Deus (ou em qualquer outra coisa transcendental) é uma característica que os distingue dos demais. Acham-se em um nível intelectual superior aos que acreditam em “mitos primitivos”, julgam-se, desta forma, como humanos acima dos demais que são mentalmente atrasados e intelectualmente retrógrados.

Outra coisa que observo é que, usando o princípio de “acuse-os daquilo que és” (Lênin), os ateus sempre batem na tecla do ‘conforto da ideia de deus’. Eles usam esse princípio e eu também o acho válido: religiosos se apegam a ideia de divindade porque se sentem confortáveis com ela. Vou explicar porque concordo: Uma das necessidades do homem (para mim a principal) é a de se relacionar com o Deus criador. Não satisfazer essa necessidade gera um grande vazio, um desconforto. Então, tentando fugir disso, alguns inventam meios (divindades por exemplo) que tentam suprir essa necessidade. O ateu foi o cara que negou essa necessidade para se ver livre do desconforto que ela gera. Ateus criticam os religiosos “é claro que para você é bom acreditar que seu deus é amoroso, mais poderoso e vai te levar para um lugar bom, por isso que você não quer enxergar a verdade”. Mas se esquecem que esse mesmo argumento se encaixa neles, porque é claro que para o ateu é agradável a ideia de que não existe Deus, que sua vida pode ser regida pelos próprios princípios morais, que depois da vida terrena dará tudo certo e ele não terá que prestar contas de suas escolhas. Existe uma ideia mais confortável que essa?

A religião/religiosidade para mim cumpre dois objetivos principais: o primeiro é sentir-se confortável consigo mesmo e sua situação espiritual; o outro é tentar receber a glória, que é somente de Deus, sentindo-se “mais iluminado” (te lembra alguém?) mediante suas crenças e obras. Apesar do ateísmo ter um sistema de crença diferente (ateus têm fé!!! Esse será meu próximo texto) não existe uma diferença substancial entre um ateu convicto e um xiita.

Tenho visto uma briga ferrenha e estúpida entre ateus e religiosos, mas não vejo diferença entre os dois. Alguns religiosos falando de ciência me causam ânsia de vômito, ateus falando de bíblia como especialistas é digno de pena. No fundo são apenas adolescentes em busca de uma identidade e se agarram a qualquer coisa tão consistente quanto uma sopa de albergue. Essa discussão entre ambos será infinita, uma vez que o que está em jogo não são ideias, mas o próprio “eu” do debatedor, e nesse tipo de discussão não se chega a verdade através de argumentos, mas se dá por satisfeito quem conseguir humilhar mais o próximo na frente de todos. Uma dica pra quem gosta de discutir essas coisas: na maioria das vezes um debatedor não está tentando convencer o próximo, mas a si mesmo.



"Me tornei seu inimigo porque te disse a verdade?"
Gálatas 4:16 





*A organização e dedicação deles me fez ter vergonha de minha dedicação a Cristo



6 comentários:

  1. Parabéns Felipe, mais uma vez você apresentou excelentes argumentos.
    Já tive acesso ao site da ATEA. O que mais me impressionou não foram os argumentos que eles apresentaram contra a ideia da existência de Deus, mas sim o fervor fanático de querer ridicularizar tudo que seja relacionado a religião. Essa ânsia de querer pregar o ateísmo é o cúmulo do paradoxo.
    Só acho que o verdadeiro agnóstico não deveria estar associado ao ateu, isso porque o agnosticismo prega que existe bons argumentos (lógicos, racionais) para justificar ou negar a existência de Deus.
    Mas o conhecimento de Deus não vem pela razão, e sim pela fé:

    I CORÍNTIOS 01:
    18 Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.
    21 Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem.
    23 nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos,
    25 Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.

    Grande abraço,
    Marcelão.

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  2. Concordo contigo sobre os agnósticos, acho bem equilibrada a posição deles pois avaliam os dois lados.

    É sempre uma honra ter seus comentários aqui... grande abraço!

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  3. Olá, tudo bem?
    Sigo a linha ateísta e gostei do seu texto. Não concordo com algumas coisas, mas fico feliz pela sua argumentação.

    Porém, saliento que o ateísmo não fala sobre a inexistência de Deus, apenas nega que a sua existência seja verdadeira. Entende a diferença? Eu não posso afirmar que Deus não existe, afinal não existe uma prova ou evidência de "nao-Deus". E esta mesma idéia se aplica ao seu oposto: não há evidências (diretas ou indiretas) da existência de Deus. Por tal motivo (sim, motivo simples!), negamos a existência de Deus sem afirmar a sua inexistência.

    Sobre o seu questionamento de "morrer sem prestar contas a ninguem" digo que, em uma visão existencialista, viver sendo escravo do próprio ego é jamais desfrutar da liberdade, sendo esta e o sentimento de vazio suas próprias "punições". (mas saliento que esta é uma visão particular minha). O ateu não negou a necessidade de preencher tal vazio. Pelo contrário, há tantos que se agarram no próprio ego, na moral, em paixões, futebol e tantos outros objetos de apego...todos com o mesmo objetivo que a idéia de Deus: preencher um vazio que, ao meu ver, só pode ser preenchido pelo "mastering" do "self".

    Concordo plenamente com seu último parágrafo e repito que gosto do seu modo argumentativo.
    Abraços

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    1. opa Vinícius,

      obrigado por ler o texto e por ser polido em seu comentário. Apenas pela educação nota-se que você é uma pessoa provida de argumentos. Uma vez que você não tem uma visão de mundo baseada no cristianismo, ainda bem que não concorda com tudo senão seria uma mente bem volátil, prefiro uma opinião contrária do que a ausência de alguma.

      Interessante a sua argumentação sobre o vazio, é realmente notório que várias pessoas tentam dar sentido na vida com variados objetos de apego e não simplesmente negar algum vazio. Nesse sentido de fato o ateísmo seria mais um objeto de apego que alguns usam ao seu bel-prazer. Acho que as conclusões que se podem chegar nesse ponto depende da definição de vazio do leitor e do autor. Porque para mim o homem tem várias áreas que precisam ser supridas (familiar, profissional, conjugal, etc) e o não-suprimento de alguma necessidade que gera a sensação de falta. E nesse viés supus uma necessidade espiritual que os materialistas negam se apegando em alguma outra coisa. Seu comentário contribuiu muito para esclarecer esse ponto. (Se bem que acho que jamais esse assunto será esclarecido de fato)

      Sobre a definição de ateu pela etimologia da palavra você está certo: ateu nada mais é do que aquele que não acredita no teísmo. (Não quer dizer que nega-o)
      Mas eu preferi me agarrar ao significado mais consagrado do termo que coloca como ateu quem nega a existência de divindades e como agnóstico (a- nega; gnosis - conhecimento) como a pessoa que nega que podemos conhecer/desconhecer a existência de divindades.

      Muito obrigado pelo comentário,

      um grande abraço!

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  4. Grande Machado, tudo bom? Li seu texto e achei bem estruturado com uma argumentação boa e linear. Entretanto, como você deve imaginar, não concordo com alguns pontos. Não que minha opinião vá mudar alguma coisa (o que duvido), mas me senti no direito (e com vontade) de exprimi-la.

    Bom, sou ‘ateu convicto’, eu acho, seja lá o que isso for. Cheguei naquele ponto em que não consigo me imaginar mudando de opinião nesse quesito, endossá-la com novas argumentações sim, mudar não. Admito ser tolice pensar dessa forma, mas fazer o quê, é o que sou, ou o que me tornei, um Ateu. Com muito orgulho? Nem de longe...

    Primeiro porque isso não me diferencia de ninguém como ser humano. Para o conjunto de valores de alguém, não importa sua origem, e sim o seu fim, ou seja, que permita ao individuo viver de forma saudável em sociedade;

    Segundo porque ‘antigamente’ ser chamado de ateu era simplesmente ‘não acreditar em deus’; agora, principalmente depois dessa ATEA (fico horrorizado com a intolerância nos comentários, apesar de gostar de alguns posts...), infelizmente, ser rotulado de ateu, traz junto consigo toda uma gama de estereótipos, o que contribui pra sua conclusão de que o ‘ateísmo’ está se tornando uma nova religião. E de fato, concordo. A questão pra mim reside no sentimento de identificação, acima daquilo que ‘se prega’, ou da ideia em torno daquilo. E não é só com o ateísmo. Quando você começa a simpatizar com uma ideia, ou uma música, ou qualquer coisa que se goste, e de repente descobre que existe MUITA gente parecida com você, é tentador não se unir em grupos pra se sentir protegido contra aqueles que uma vez reprovaram sua conduta, ou contra o próprio medo de se sentir excluído, ou pelo simples fato de que é bom ‘estar’ em um ambiente onde você sabe que ninguém irá discordar de suas ideias, de seus gostos. É bom pro ego... Além disso, esse pra mim é um dos motivos (perdoe-me) por haver tanta gente envolvida com religião, ou com projetos de Igreja, etc... O que não deixa de ser uma coisa natural e sadia. Só não simpatizo com a filosofia pro trás disso tudo.

    Quanto à ideia do conforto da necessidade de acreditar em deus, vejo de outra forma: Esse conforto provém da inabilidade de responder aos mais variados ‘enigmas do mundo’, que a ciência ainda não pode responder (quem dirá na época em que foram concebidas). Aceitar a ideia de que simplesmente ainda não somos capazes de saber tudo, ou que sequer um dia chegaremos a saber, é um infortúnio tal que nos faz sentir pequenos, impotentes. Nesse momento, estamos mais propícios a buscar algum auxílio contra esse sentimento. Portanto, pra mim o ateu (não gosto dessa rotulação), ou melhor, aquele que não acredita em uma divindade, é aquele que não foi adiante nessa história, e aceitou sua pequenez (como sou baixinho isso explica muita coisa...). Note que não falo em linhas gerais, pois só tenho um exemplo que conheço bem, o meu. E outra, infelizmente não acredito que ‘depois da vida terrena dará tudo certo’, porque pra mim não tem depois. O que não me tira a obrigação de ter que viver em sociedade, e me acostumar a ela, seus prós e contras, e principalmente suas diferenças. A prestação de contas é aqui, com a consciência, e como ela foi moldada, que depende fundamentalmente da sua cultura. Acreditar que as coisas têm que ser uma hora compensadas, e que à uma justiça inexorável irão todos se encontrar no fim, pra mim não passa de uma ilusão.

    Desculpe por me alongar demais, e ao seu texto meus aplausos, especialmente o último parágrafo. Invejo a coragem (e/ou auto-confiança) de postar suas ideias em um blog, a despeito das opiniões contrárias.

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    1. Grande Pablo, um abraço!!

      Fiquei feliz em saber que leu o texto e que ainda teve o trabalho de comentar...vlw

      "Além disso, esse pra mim é um dos motivos (perdoe-me) por haver tanta gente envolvida com religião, ou com projetos de Igreja, etc..." -> Não entendi o 'perdoe-me' hahaha... concordo demais contigo nesse ponto e a luta contra a religiosidade é justamente um dos maiores objetivos deste blog...

      Quanto à questão do conforto, a ideia de divindade/ñ-divindade é uma ferramenta quando o desconforto vem da complexidade/sentido da vida, mas acho esse apenas um dos variados motivos que levam uma pessoa a acreditar/desacreditar em algo. Mas só deixo uma ressalva que não é pretensão do verdadeiro cristianismo responder a todas as questões, na verdade aprendemos a viver sem algumas respostas que, de fato, em nada acrescentam em nossas vidas.

      A única coisa que acho que ateus têm em comum é a necessidade de se relacionar com Deus (mas essa opinião vem da minha visão de mundo que certamente destoa da sua, ou seja, não iremos concordar nesse ponto o que por mim tudo bem). Mas quanto aos outros aspectos é impossível eu colocar todos os ateus nos parâmetros do texto, tentei ser o mais geral possível e não sei se consegui. Porque infelizmente o ateísmo, assim como o cristianismo ou qualquer outra ideologia, sofre do mal de servir de abrigo para pessoas variadas desprovidas de opinião e que precisam se afirmar. Então temos variados tipos de ateus e variadas formas com que eles chegaram ao ateísmo.

      Não sei se fazer um blog é uma mostra de coragem. Muita gente já perdeu a cabeça pelo que tento defender aqui, eu na verdade me sinto um frango =\

      Um grande abraço cara, essa semana vou tentar colocar a continuação desse texto.. se puder ler vai ser uma honra..

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