quarta-feira, 23 de julho de 2014

SOLA SCRIPTURA



"Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias" 
(Martinho Lutero)


Podemos confiar nas escrituras? Porque alguns livros fazem parte da Bíblia e outros não? Tudo o que está na Bíblia é verdade? Tudo que é verdade está na Bíblia?


Certamente se você é cristão, principalmente se for protestante, já deve ter pensado em uma ou mais questões acima. Para nós cristãos uma questão de fundamental importância é saber qual a verdadeira fonte de doutrina e princípios. Dentre os principais grupos cristãos podemos fazer uma divisão do credo a respeito desse assunto: há aqueles que creditam apenas a Bíblia como fonte de doutrina e princípios e há aqueles que acreditam na tradição e autoridade de sua instituição religiosa como fonte de tais verdades. Dentre estes daremos enfoque ao pensamento católico romano pois é o mais influente na cultura ocidental e no mundo e foi de dentro de seus domínios que surgiu a reforma protestante.



O pensamento católico

A Igreja Católica acredita ser ela a única Igreja de Cristo na Terra (Lumen Gentium - Luz dos Povos) sob o argumento de que Cristo fundou apenas uma Igreja e não várias, e esta Igreja foi edificada sobre Pedro (MT 16:18) . A Igreja Católica Apostólica Romana se denomina como herdeira da cátedra de Pedro considerando este como seu primeiro Papa. Desta forma para o pensamento tradicional católico quem está fora dela não é parte do corpo de Cristo. Sendo ela a única Igreja de Cristo na Terra, cabe então a ela definir as questões referentes à fé, doutrina e princípios. Esta tarefa é realizada através do Magistério da Igreja Católica (Encíclica 'Veritatis Splendor’ - Esplendor da Verdade) e ensina que somente a Igreja Católica tem o ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, que foi baseado nesse magistério que a Igreja Católica definiu quais os livros que estariam na Bíblia e também que a Igreja Católica não tira só da Bíblia a sua certeza a respeito das coisas reveladas, mas que a tradição oral e escrita devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência. 

Existem dois tipos de magistérios, o ordinário, que é exercido continuamente pelos bispos e pelo Papa, através de vários documentos e meios, e não está imune ao erro mas deve ser reverenciado pelos fiéis pois "o fato de não estar imune ao erro não quer dizer que os possua"; já o magistério extraordinário é exercido em situações pontuais pelo Papa ou em um Concílio e, quando se tratar de juízos referente à fé e à moral, o magistério extraordinário (ou supremo) é infalível. Podemos aferir essa doutrina no catecismo da Igreja Católica:

Capítulo 47.12 -"Comunhão do Pontífice com os Bispos‟:


§85 "O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo", isto é, foi confiado aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma. 

§100 O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus foi confiado exclusivamente ao Magistério da Igreja, ao Papa e aos bispos em comunhão com ele

§816 "A única Igreja de Cristo (...) é aquela que nosso Salvador depois de sua Ressurreição, entregou a Pedro para que fosse seu pastor e confiou a ele e aos demais Apóstolos para propagá-la e regê-la... Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na ( "subsistit in") Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele" O Decreto sobre o Ecumenismo, do Concílio Vaticano II, explicita: "Pois somente por meio da Igreja Católica de Cristo, 'a qual é meio geral de salvação', pode ser atingida toda a plenitude dos meios de salvação. Cremos que o Senhor confiou todos os bens da Nova Aliança somente ao Colégio Apostólico, do qual Pedro é o chefe, a fim de constituir na terra um só Corpo de Cristo, ao qual é necessário que se incorporem plenamente todos os que, de que alguma forma, já pertencem ao Povo de Deus". 

§892 A assistência divina é também dada aos sucessores dos apóstolos, ao ensinarem em comunhão com o sucessor de Pedro e, de modo particular, com o Bispo de Roma, Pastor de tida a Igreja, quando, mesmo sem chegar a uma definição infalível e sem se pronunciar de "forma definitiva", propõem no exercício do magistério ordinário um ensinamento que leva a uma compreensão melhor da Revelação em matéria de fé e de costumes. A este ensinamento ordinário os fiéis devem "ater-se com religioso obséquio do espírito" [eique religioso obsequio adhaerere debent] qual, embora se distinga do assentimento da fé, o prolonga. 

§895 "Este poder, que exercem pessoalmente em nome de Cristo, é um poder próprio, ordinário e imediato; em seu exercício, porém, está submetido à regulamentação última da autoridade suprema da Igreja." Todavia, não se devem considerar os Bispos como vigários do Papa, cuja autoridade ordinária e imediata sobre toda a Igreja não anula, ao contrário, confirma e defende a deles. Esta deve ser exercida em comunhão com toda a Igreja, sob a condução do Papa.

Em suma, a Igreja Católica acredita ser a sucessora da cátedra de Pedro e acredita ter sido ela que montou a Bíblia, sendo esta então sujeita à autoridade dela. Acredita também ser a tradição oral e escrita tão válidas em matéria de doutrina quanto as Escrituras, pois para ela a Bíblia é fruto desta tradição, e que Deus continua a revelar verdades à Igreja Católica através do Magistério exercido pelo Papa e pelo corpo episcopal.



A Sola Scriptura

Sola Scriptura (somente as escrituras) é o ensinamento que somente a Bíblia é a palavra inspirada por Deus tendo autoridade para versar sobre a doutrina e princípios Cristãos. Este fundamento afirma que a Bíblia não exige interpretação fora de si mesma, ou seja, através da leitura das próprias escrituras se entende as escrituras. Assim sendo, todos somos capazes, através da graça Divina, de entender o evangelho de Cristo através da Bíblia e viver um verdadeiro cristianismo. Qualquer doutrina que não esteja em conformidade com as escrituras deve ser abandonada sendo a Bíblia nosso único norte, nosso único guia no que diz respeito à vida cristã.

De certa forma, a Sola Scriptura é a principal diferença dos protestantes para quaisquer outras linhas de pensamento dentro do cristianismo (ortodoxa, ortodoxa oriental, anglo-americana, católica romana, copta, etc). Apesar de haver algumas variações de interpretações e doutrinas entre os protestantes, todos concordam que a Bíblia é a fonte de verdade e todos têm autoridade, através da Bíblia, de exortar qualquer pessoa ou linha de pensamento (isto na teoria porque na prática o corrupto coração humano leva líderes protestantes ao orgulho de não aceitarem ser corrigidos, o que gera tantos absurdos teológicos que vemos por aí).

Mas para ter um firme fundamento na palavra primeiro temos que responder às perguntas colocadas no início do texto não é mesmo?

A origem do Cânon Bíblico

A Igreja Católica diz que foi ela, através de Concílios, que decidiu quais eram os livros sagrados e quais não eram e que, se hoje temos a Bíblia como sagrada, é porque acatamos a autoridade desses líderes católicos reunidos em Concílio, dito de outra forma, ela diz que a Bíblia é fruto do magistério da Igreja e se nós aceitamos ela como sagrada reconhecemos a autoridade da Igreja. Alguns dizem que isto foi decidido nos Concílios de Hipona (393 d.C) e Cartago (397 d.C.). Mas esses Concílios não estabeleceram um cânon à igreja como um todo sendo isso feito apenas no Concílio de Trento (1545 - 1563) depois da reforma protestante, ou seja, antes deste Concílio (que foi uma das respostas à reforma) não havia consenso dentro da Igreja Católica a respeito do cânon bíblico. A teoria de que foi a Igreja Católica que decidiu quais livros eram sagrados é contraditória tanto pela essência dos textos quanto historicamente. Pela essência dos textos porque qualquer um que tenha lido o novo testamento verá que os ensinamentos e doutrinas ali contidos confrontam diretamente as estruturas da fé Católica (como por exemplo em Gálatas 2:11-14 Paulo repreende a Pedro demonstrando que Pedro não tinha autoridade sobre toda a Igreja como os atuais Papas, em At 9:31, At 16:5, Rm 16:16, Ap 1:11 e em outros textos a expressão bíblica é “as Igrejas” (contrariando a idéia de que havia apenas uma igreja terrena sob a autoridade de Pedro) logo não pode uma instituição dar autoridade sagrada a algo que vai totalmente contra os seus próprios princípios. A contradição histórica se deve ao fato de que todos os livros da Bíblia foram escritos até 90d.C. e que antes mesmo do século II já havia começado a formação de um cânon comum aos primeiros cristãos.

Clemente de Roma, ano 96 d.C. Ele claramente citava Hebreus, I Corintios, Romanos, e possivelmente Mateus, Atos, Tito, Tiago e I Pedro. 

Policarpo, discípulo do apóstolo João, escrevendo em 115 d.C. para a Igreja dos Filipenses: Pelo menos 50 citações tiradas de Mateus, Lucas, Atos, Romanos, I e II Corintios, Galatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, I e II Pedro, e I João, além de várias alusões à Marcos, Hebreus, Tiago e II e III João. O único escritor do NT não incluído foi Judas. Ele citava trechos destes livros e os chamava de "Escrituras", "Santas Escrituras".

Tertuliano, ano 208 d.C., escrevendo para Igrejas fundadas pelos apóstolos. Ele diz que eles sabem que os "escritos autênticos" ainda estavam disponíveis nas Igrejas. Ele diz "corram para as Igrejas apostólicas, onde os escritos dos apóstolos são lidos, proclamados e representam o rosto deles severamente. Acaia está perto de vocês, onde vocês encontram CORINTO. Vocês não estão longe da Macedônia, onde está FILIPOS e também os TESSALONICENSES. Vocês podem atravessar a Ásia e chegar a EFESO. Estando perto da Itália, vocês têm ROMA."

Cartas de Paulo: Até mesmo estudiosos liberais concordam que uma coleção das cartas de Paulo circulava no começo do século II, pois Inácio referiu-se a elas em 117.

Mateus, Marcos, Lucas, João Sabe-se que eles eram reconhecidos como Escritura antes do ano 170, pois nesse ano foi escrita a famosa obra de Taciano, chamada Diatessaron, que fez uma "harmonia" dos 4 evangelhos, e somente deles.

Cânone Muratori Descoberto por Ludovico Muratori trata-se de uma lista de livros sagrados datada do século II.



Porque devemos confiar no Novo Testamento

É óbvio que devido ao fator geográfico e à dificuldade das comunicações na época dos cristãos primitivos o novo testamento como conhecemos demorou a ser formado pois cada Igreja em cada localidade recebia cartas diferentes dos apóstolos e liam textos diferentes uns dos outros. Logo até que os cristãos conseguissem se encontrar e reunir todos os textos sagrados demorou e houve um pouco de desconfiança devido ao medo de falsificações e falsos evangelhos, havia muitos livros apócrifos, como o Apocalipse de Pedro. Mas, mesmo que os primeiros cristãos não conhecessem todos os livros do novo testamento como conhecemos hoje, já havia uma clara distinção do que era sagrado e do que não era. Primeiro por causa da autoria, grande parte deles vieram dos apóstolos, e segundo por causa da conformidade com os ensinamentos de Cristo. Na verdade esse espalhamento geográfico fortalece nossa fé em relação à autoridade das sagradas escrituras. Pois mesmo escritos por pessoas diferentes e separadas geograficamente os livros do novo testamento apresentam uma harmonia e concordância entre si que supera qualquer possibilidade de acaso.
No novo testamento temos os evangelhos de Mateus e João, que foram discípulos de Jesus e portanto testemunhas históricas; o evangelho de Marcos, que era discípulo de Pedro (outra testemunha histórica) e o evangelho de Lucas que viveu à época dos acontecimentos. E esses quatro evangelhos, mesmo escritos em lugares separados por pessoas diferentes (lembre-se que muitos deles eram homens simples e sem erudição) têm uma concordância entre si assombrosa. Completando o cânon temos as cartas de Paulo, que foi chamado pessoalmente por ninguém menos que o próprio Cristo; temos as cartas dos discípulos de Cristo; as cartas de Judas, que era um dos apóstolos da época e convivia com os discípulos; a carta de Hebreus, que apesar de ser alegadamente que tem autoria desconhecida é harmoniosa com as demais; e o Apocalipse escrito por João nos moldes das antigas profecias. Todos esses textos foram escritos por pessoas diferentes em diferentes lugares e mesmo assim apresentam uma harmonia perfeita denotando terem sido inspirados pelo mesmo Espírito.

Porque devemos confiar no cânon protestante do antigo testamento

Todos devem saber que há uma diferença entre o antigo testamento católico e o antigo testamento protestante. No cânon católico constam os livros de Tobias, Judite, Macabeus I e II, Sabedoria, Eclesiástico e Baruque. Estes livros, também conhecidos como deuterocanônicos, foram escritos na época compreendida entre a morte de Malaquias e o nascimento de Jesus e constam numa lista judia conhecida como Septuaginta. Eles foram oficializados no cânon católico no Concílio de Trento como resposta à reforma protestante que nega que sejam sagrados. Inicialmente as Bíblias protestantes traziam estes livros como forma didática e histórica mas não os considerava canônicos. Porém para evitar confusão entre esses livros e o cânon bíblico eles pararam de ser publicados na Bíblia protestante.
Há uma razão para a Igreja Católica considerá-los como canônicos e há uma razão para os protestantes e os judeus não o considerarem como canônicos. Apesar de eles fazerem parte da Septuaginta eles não eram considerados sagrados pelos judeus e nem mesmo pelos seus autores. Eles foram escritos em uma época em que Israel se afastara de Deus e já não havia mais profetas falando mediante inspiração do Espírito.

- Em Macabeus I (por volta de 100 a.C.) o autor escreve referindo-se ao altar dos holocaustos 


"Demoliram-no, pois, e depuseram as pedras sobre o monte da Morada conveniente, à espera de que viesse algum profeta e se pronunciasse a respeito" 
(l Mac 4.45-46) 

o que demonstra que não conheciam ninguém que pudesse falar com a autoridade dos profetas do antigo testamento, a lembrança de um profeta no meio do povo era distante e Macabeus descreve:


“Foi esta uma grande tribulação para Israel, como nunca houve desde o dia em que não mais aparecera um profeta no meio deles”
I Mac 9:27

e também:


“E que os judeus e seus sacerdotes haviam achado por bem que Simão fosse o seu chefe e sumo sacerdote para sempre, até que surgisse um profeta fiel. 
I Mac 14:41

-O historiador Josefo (37 d.C.), o mais famoso historiador judeu do primeiro século, afirma: 


"Desde Artaxerxes até os nossos dias foi escrita uma história completa, mas não foi julgada digna de crédito igual ao dos registros mais antigos, devido à falta de sucessão exata dos profetas" 
(Contra Apião 1:41) 

e também: 


"Após a morte dos últimos profetas, Ageu, Zacarias e Malaquias, o Espírito Santo afastou-se de Israel" 
(Talmude Babilônico, Yomah 9b repetido em Sota 48b) 

o que denota que os escritos pós-Malaquias tinham valor histórico mas não tinham crédito igual aos antigos escritos do tempo dos profetas.

Jesus cita o antigo testamento várias vezes como palavra autorizada por Deus mas nenhuma vez sequer cita algum livro deuterocanônico.


Assim sendo porque eles estão inclusos no cânon católico? Simples: eles são uma resposta à Reforma Protestante ocorrida em 1517 pois contém doutrinas não aceitas pelos protestantes e que fortificam o pensamento católico. Como por exemplo:

-culto e oração pelos mortos


“Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas.” 
II Mac 12 43:46


As origens da ‘Sola Scriptura’

Tendo em vista as evidências lógicas e históricas descritas acima já podemos então aferir que o cânon conforme apresentado na Bíblia protestante contem a verdade a respeito da doutrina e vontade de Deus. Mas será que ele contém toda a verdade? Bem, isso a Bíblia mesmo pode responder: NÃO CONTEM. Por exemplo, Paulo fala que conheceu um homem que “Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar.” (2 Coríntios 12:4) Há coisas que existem e são verdade mas as quais não sabemos e não estão na Bíblia. 

Mas se existem verdades fora da Bíblia porque então "Sola Scriptura‟? Se há verdades divinas fora da Bíblia porque então focamos apenas nela? 
A resposta disso é bem simples: porque a Bíblia é a única fonte de verdades divinas a qual temos certeza que está correta, qualquer outra é relativa e duvidosa. A palavra cânon deriva do termo grego kanon e designa uma vara que era utilizada com o padrão de medida (assim como temos o metro padrão hoje). Logo a Bíblia, o nosso kanon, é o nosso padrão de medida, o nosso guia, o nosso norte. É aquilo que temos como medida absoluta a qual podemos compar relativamente nossas vidas, pensamentos, doutrinas, filosofias e crenças para saber se estão corretas. Focando nossas vidas em seguir fielmente as Escrituras temos a certeza que estamos trilhando o bom caminho. 

É importante ressaltar aqui que a Bíblia não é nossa fonte de salvação, existem cristãos genuínos que nunca tiveram contato com uma Bíblia, assim como os primeiros cristãos precedem a criação da mesma e foram salvos. Da mesma forma que mesmo os católicos tendo uma visão diferente a respeito das escrituras eles podem ser salvos através de Jesus Cristo. 


A patrística e a Sola Scriptura

Patrística é o termo usado quando nos referimos aos primeiros cristãos após a pregação do evangelho ocorrida no primeiro século, o nome"patrística‟ é assim denotado pois esses cristãos são considerados como os"pais do cristianismo‟. Apesar de creditarem a Lutero a doutrina de Sola Scriptura quando ele pregou as famosas 95 teses em 31 de outubro de 1517, podemos averiguar que historicamente os primeiros cristãos, anteriores à criação histórica da Igreja Católica, defendiam que somente as escrituras eram fonte de doutrina e princípios. Logo a idéia de que foi Lutero o inaugurador dessa doutrina é falsa, assim como podemos também notar que foi com a criação da igreja romana que os cristãos passaram aceitar a tradição como fonte de doutrina dando origem a um pensamento relativístico que ruiu as estruturas do pensamento cristão genuíno. Esse pensamento relativo abriu margem para que doutrinas humanas corruptas (como a bula papal Unam Sanctam promulgada pelo Papa Bonifácio VIII em 1302 visando aumentar seu poder político) fossem tidas como sagradas poluindo o verdadeiro evangelho e preparando terreno para o ataque que as filosofias antropocentristas fizeram à contradição do pensamento “cristão” na Europa.

Vejamos o que pensavam os primeiros cristãos a respeito das escrituras: 


Creio que sois bem versados nas Sagradas Letras e que não ignorais nada; o que, porém, não me foi concedido. Nessas Escrituras está dito: “Encolerizai-vos e não pequeis, e que o sol não se ponha sobre vossa cólera.” Feliz quem se lembrar disso. Acredito que é assim convosco” (Policarpo aos Filipenses, 12:1)


“Irmãos, sede cheios de imitação e zelo no que se refere à salvação. Vós vos curvastes sobre as Sagradas Escrituras, essas verdadeiras Escrituras dadas pelo Espírito Santo. Sabeis que nada de injusto e de falso está escrito nelas. Não encontrareis que os justos tenham sido rejeitados por homens santos”
 (Clemente aos Coríntios, 45:1)


Caríssimos, conheceis, e conheceis bem, as Sagradas Escrituras, e vos inclinastes sobre as palavras de Deus. Nós vos escrevemos essas coisas para recordar” 
(Clemente aos Coríntios, 53:1)

“Não temos algum mandamento de Cristo que nos obrigue a crer nas tradições e nas doutrinas humanas, mas somente naquelas que os bem-aventurados profetas promulgaram e que Cristo mesmo ensinou, e eu tenho cuidado de referir todas as coisas às Escrituras e pedir a elas os meus argumentos e as minhas demonstrações” 
(Justino Mártir, Diálogo com Trifão)



Considerações Finais

“Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, É soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, Perversas contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais.” 
1 Timóteo 6:3-5

Prezados, temos vivido uma época em que o mundo está sendo aceleradamente preparado para o fim dos tempos. Satanás é um espírito e é o pai da mentira, a mentira existe tão somente no campo das idéias, das ideologias. Foi através de uma ideologia que a serpente enganou Eva e derrubou a humanidade e será uma ideologia que ceifará almas no juízo final. Muitas têm sido as ideologias satânicas que têm impregnado nossa cultura as quais têm aparência de bondade mas seu fim leva à morte. Guardai vosso coração de tudo aquilo que promete um paraíso na Terra a custo de abandonarmos o verdadeiro cristianismo, estejam focados na Palavra e de lá não retirem o vosso coração. 

NÓS JAMAIS SEREMOS MAIS ESPERTOS QUE AS ESCRITURAS!



“Me tornei seu inimigo porque te disse a verdade?” 
Gálatas 4:16